terça-feira, 29 de julho de 2008

Eu já sabia...

Abri o Globo Online hoje e li "Fracassam negociações de Doha para liberalização do comércio mundial". Confesso que deu vontade de escrever num pedaço de papel o que os gaiatos sempre mostram para as câmeras da TV nas finais esportivas: "Eu já sabia!".

O principal obstáculo à liberalização do comércio mundial hoje é a questão dos subsídios agrícolas oferecidos aos produtores pelos países desenvolvidos, sobretudo pelos Estados Unidos e pela União Européia. Os países subdesenvolvidos, com destaque para Brasil, China e Índia, líderes do G-20, alegam que não conseguem competir com os produtos agrícolas dos países mais ricos e estes dizem que não vão reduzir os subsídios por se tratar do setor mais frágil de suas economias. Chega-se a um impasse que pretendia-se resolver durante as negociações mais recentes da já desgastada Rodada de Doha. Doce ilusão. Seria o mesmo que esperar que Palestinos e Israelenses tirassem do papel o Plano de Partilha da Palestina após uma reunião diplomática com duração de 10 dias. Com interesses muito distintos na mesa fica muito difícil chegar a acordos favoráveis a todos. Não dá pra somar zero. Pra alguém ganhar, alguém vai perder.

"Rodada" é o nome dado aos períodos de negociação comercial no âmbito da OMC, antigo GATT. O nome subseqüente é uma referência à cidade que abrigou o primeiro fórum de discussões do debate. Já houve Rodadas de Genebra (1947 e 1955-1956), de Annecy (1949), Torquay (1950-1951), Dillon (1960-1961), Kennedy (1964-1967), Tóquio (1973-1979), Uruguai (1986-1993) e Doha (2001-...). A de Doha é a que envolve mais países, mais temas, mais controvérsias e é a primeira rodada desde a criação da Organização Mundial do Comércio, em 1995, decisão tomada durante a rodada do Uruguai.

Em setembro as negociações serão retomadas mais uma vez. As questões serão as mesmas, os atores envolvidos também. Alguém tem um palpite sobre o resultado?

Para ler mais sobre a OMC e as rodadas comerciais, acesse o artigo sobre a OMC na wikipedia, na versão em inglês. Completíssimo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Gigantes Globais


A inspiração está passando longe, mas três fatores motivaram este texto. Em primeiro lugar, ficar algum tempo sem postar é aceitável, mas completar um mês sem novidades é demais. Além disso, dois de meus quatro leitores reclamaram no texto anterior que isso aqui anda muito parado e se a insatisfação popular derruba governos, não quero ver o que ela pode fazer com blogs. E, finalmente, quando abri o Globo de hoje li em letras garrafais: InBev compra Bud e cria a maior cervejaria do mundo.

Este é só mais um episódio de uma tendência cada vez mais consolidada. Em um momento de crise no capitalismo mundial, muitas vezes a única saída é a concentração de capitais. Fusões e incorporações de empresas transnacionais são efetuadas todas as semanas em todos os cantos do planeta como estratégia de redução de custos, ampliação das margens de lucro, ampliação de mercados, enfim: estratégias de sobrevivência. O caso da Inbev, aliás, é bastante emblemático.

Em 1998, Brahma e Antartica, as principais cervejarias brasileiras, efetivaram uma fusão e deram origem à AmBev, a segunda maior cervejaria das Américas. Há alguns anos a Ambev aliou-se à belga Interbrew, dando origem à InBev, a segunda maior cervejaria do mundo. E agora, a Anheuser-Busch, já fruto de uma fusão, foi incorporada à Inbev. Formou-se uma gigante mundial do setor de bebidas.

Esta gigante garante seu lugar ao lado de outras gigantes globais, resultado de concentração de capitais, cada uma em seu setor: TimeWarner nas comunicações, Glaxo Smithkline na farmacêutica, Mitsubishi UFJ Financial Group nos bancos...

Para ler mais sobre a tendência de concentração de capitais, clique aqui e aqui.